terça-feira, 30 de setembro de 2008

Curiosidades Curiosissimas 008: Os primeiros personagens homossexuais da Marvel!



Ah, o amor que não ousa dizer seu nome... Tema eternamente polêmico. Durante muito e muito tempo a indústria americana de quadrinhos fugiu dessa temática como o diabo foge da cruz, ainda mais quando nos anos cinqüenta o polêmico psiquiatra Fredric Wertham afirmou publicamente que o relacionamento entre Batman e Robin tinha implicações, digamos assim, carnais. Só que o tempo passa, o tempo voa, e um dia homossexuais precisariam ser retratados nos quadrinhos mainstream estadunidenses, e praticamente a primeira vez que a Marvel Comics trouxe homossexuais foi em uma aventura do Incrível Hulk.

A revista bimestral em preto-e-branco The Hulk! foi lançada em meados de 1978 na esteira do seriado televisivo do Gigante
Verde, que fazia um baita sucesso naquela época. Esse gibi procurava trazer histórias com um viés mais maduro e teve vinte e sete edições lançadas até 1981. A vigésima-terceira edição chegou as bancas em outubro de 1980 trazendo a história "A Very Personal Hell" (Um Inferno muito pessoal, em uma tradução livre), escrita por Jim Shooter e desenhada por John Buscema e Alfredo Alcala, e tal história abarcava uma enorme miríade de assuntos palpitantes. Moradores de rua, vício em drogas e violência doméstica foram problemas sociais francamente abordados por Shooter na aventura em questão, e para "apimentá-la" um pouco mais o então editor-chefe da Marvel pela primeira vez colocou personagens homossexuais em um gibi da Marvel. Eram coadjuvantes, é claro, já que naquela época ainda não era conveniente criar personagens homossexuais destacados. Até aí tudo bem, tudo legal, só que infelizmente Shooter acabou trocando os pés pelas mãos. Olhem só o que ele aprontou...



Em "A Very Personal Hell" Bruce Banner está em Nova York buscando como sempre uma cura para as suas transformações em Hulk. Durango como sempre, o bom Dr. Banner hospedou-se em uma sede da Associação Cristã de Moços, uma organização filantrópica famosa por dar abrigo para pessoas sem lar. Alojado na Associação, um belo dia o Dr. Banner foi ao banheiro comunitário da hospedaria tomar um banho quando deparou-se com dois tipos "estranhos" chamados Luellen e Dewey. Os dois "simpáticos" rapazes simpatizaram com o Doutor, dirigindo a ele "elogios" sobre a brancura e maciez da sua pele e apalpando-o "suavemente". O nosso herói obviamente "estranhou" a situação, e quando os dois rapazes constataram que Banner não estava a fim de "muita conversa", eles decidiram que seria de bom tom apontar uma faca para ele e forçá-lo a, digamos assim, "abrir-se" um pouco mais. Diante desse fato não restou a Bruce Banner outra opção a não ser transformar-se no seu gigantesco e verde alter ego para acabar de vez com as pretensões de "amizade" dos comunicativos rapazinhos. E assim acabou-se a carreira quadrinistica dos primeiros personagens homossexuais da Marvel Comics.



Pois é, sejamos politicamente corretos, mesmo porque um pouquinho de correção política não faz mal para ninguém: não existe nada mais ridículo que esterótipos. O esterótipo da "bichinha-delicadinha" por si só não ajuda em nada a dirimir preconceitos, e com certeza o esterótipo da "bicha-violenta-e-estupradora" só ajuda a aumentá-los. Não que o homossexual tenha que ser retratado única e exclusivamente como um anjo de candura e bondade; sabemos que o ser humano não é assim. O que realmente essa minoria precisa é ser retratada na mídia com toda a complexidade e nuances que fazem parte de qualquer pessoa, e infelizmente Jim Shooter não foi feliz nesse roteiro, tanto que em 1992 em uma entrevista o escritor Peter David (um dos caras que mais escreveu histórias do Hulk) declarou que "tal seqüência não fez muito pela Marvel, pelos gays, por Bruce Banner e principalmente pela Associação Cristã de Moços". Mas talvez possamos entender as razões que levaram Shooter a retratar dois homossexuais de forma tão esterotipada: segundo alguns boatos em meados dos anos oitenta Shooter declarou que a Marvel jamais teria heróis gays, e essa foi uma das razões que levaram o roteirista e desenhista John Byrne a sugerir a homossexualidade do herói canadense Estrela Polar de forma mais cifrada possível. Porém com o passar do tempo a cabeça de editores da Marvel e da DC mudou, Estrela Polar saiu de vez do armário e heróis e personagens coadjuvantes assumidamente gays começaram a pintar nas páginas dos quadrinhos americanos. Talvez um dia retomemos esse assunto aqui...

P.S.1: A história "A Very Personal Hell" foi publicada aqui no Brasil no gibi O Incrível Hulk #16, publicada pela Editora Abril em outubro de 1984, com o título "O Inferno de Cada Um", e espertamente os editores nacionais tiraram as referências sexuais mais explícitas da histórias quando a traduziram. Veja abaixo a capa desse gibi.



PS.2: A Associação Cristã de Moços é conhecida internacionalmente pelo nome "Young Men's Christian Association", ou para ser mais exato pela sigla YMCA. Se vocês se lembraram de uma certa canção imortalizada pela banda Village People, bem... Só podemos falar que os alegres rapazes do Village realmente homenagearam a prestigiosa organização com essa bela canção! Ouçam um pequeno trecho dela no vídeo abaixo:



Fonte:
Lonely Gods

Um comentário:

Anônimo disse...

Testando um dois três