domingo, 5 de julho de 2009

Curiosidades Curiosissimas 022 - Tyroc, o Legionário Renegado!


Olá! Após um mais um longo intervalo de tempo estamos de volta, com mais uma Curiosidade Curiosissima! Nos últimos tempos pudemos assistir a Casa Branca ter como novo morador o respeitável afro-negão Barack Hussein Obama e também pudemos ver a indústria da moda brasileira discutir a presença (ou ausência, se preferirem) de modelos negros nas passarelas. Tudo isso fez com que a nossa sociedade se tornasse mais disposta a discutir a questão racial e as suas implicações, porém como somos um blog de cultura pop não vamos fazer aqui nenhum tipo de arrazoado sociológico-econômico-psicológico profundo sobre o tema... Vamos simplesmente aproveitar essa deixa para relembrar a história de Tyroc, o mais esquecido e ainda assim mais polêmico membro da Legião dos Super-Heróis!


Este blogueiro que vos fala sempre foi fã de carteirinha da Legião dos Super-Herois, tanto que esse modesto blog foi inaugurado com uma breve retrospectiva da equipe futurista, que pode ser lida clicando-se aqui, aqui e aqui. Ora, sejamos francos: uma série ambientada em um futuro utópico e estrelada por jovens heróis inspirados no Superboy tem um charme indiscutível. Todavia, para alguns leitores mais atentos o futuro mostrado nas aventuras da Legião talvez não fosse tão utópico assim... Em uma missiva publicada em 1967 na seção de cartas do gibi Adventure Comics #363 (que na época publicava as histórias da equipe) um leitor se queixava de um fato um quanto quanto insólito: nenhum personagem negro -- nem mesmo um mero coadjuvante ou personagem de fundo -- aparecia em nenhuma história da Legião! Vocês querem saber qual foi a reposta para essa carta? O então editor E. Nelson Bridwell candidamente pediu para o leitor queixoso ficar atento as próximas aventuras dos adolescentes do futuro, já que que a estréia de uma nova heroína iria "surpreeender os leitores". Tal heróina era Penumbra, e a simpática alienígena oriunda do planeta Talok VII tinha a pele azul. Pelo visto para os editores da DC Comics heróis de pele azul, laranja ou verde eram o mais bem acabado exemplo de diversidade étnica, não é mesmo? Bem, não vamos entrar no mérito de discutir isso...


Em 1975 Mike Grell (o então desenhista da Legião) viu uma oportunidade para introduzir um afro-descendenten nas histórias da Legião assim que recebeu do roteirista Cary Bates o roteiro da aventura "The Rookie Who Betrayed the Legion" (O novato que traiu a Legião), cuja premissa era a seguinte: o arquivilão Universo fugiu cadeia e com o auxilio de um cadete da Polícia Cientifica chamado Dvron a jovem equipe iniciou as buscas por ele. No momento em que os legionários estavam prestes a capturar o vilão uma surpresa ocorreu: Dvron ajudou o vilão a fugir! Mas por que o cadete fez isso? A resposta é simples: no passado Universo salvou a vida de Dvron, e isso foi mais do que suficiente para que o cadete -- mesmo sendo um fiel cumpridor da Lei -- se sentisse em dívida com o criminoso. No final, tudo ficou bem: Dvron deixou de lado a sua dívida com Universo e junto com os legionários despachou o bandido de volta para a cadeia. Ah, antes que nos esqueçamos: essa história foi originalmente publicada no gibi Superboy starring the Legion of Super-Heroes #207, no início de 1975 e não fazemos a menor ideia se algum dia foi publicada no Brasil.


Vocês olharam para a última página de "The Rookie Who Betrayed the Legion" que postamos logo acima? Olharam bem para a carinha do Dvron no último quadro?
Pois é... Ele tem carinha de negão, não é mesmo? Mas por que diabos ele tem a pele caucasiana? Ora, não havia nenhuma descrição precisa de Dvron no roteiro que Mike Grell recebeu, e diante disso o desenhista não viu problema nenhum em caracterizar o cadete da Polícia Cientifica como negro, só que Murray Boltinoff (editor da Legião na época) não gostou nadinha do que viu, por duas razões: primeiro, ele não achava correto que o primeiro negro a aparecer nas aventuras da Legião fosse um cara de moral dúbia como o Dvron; e por fim, Boltinoff tinha planos para introduzir o primeiro super-herói negro do século XXX. Grell ficou doido da vida com as restrições de Boltinoff, e seguindo as ordens do editor ele refez seu trabalho, porém em diversas passagens da história fica vísivel para quem prestar atenção que Dvron no minimo tem um pezinho na senzala. Mas vocês acham que esse foi o único dissabor de Grell? Ele ficou puto de verdade mesmo quando se viu frente a frente com a ideia que Boltinoff tinha para o primeiro legionário negro...


No primeiro semestre de 1976 chegou nas bancas americanas o gibi Superboy starring the Legion of Super-Heroes #216, que trazia a singela história "The Hero who hated the Legion", escrita por Cary Bates e desenhada por Mike Grell. Nessa aventura a busca por joias roubadas levaram a Legião para Marzal, uma ilha completamente isolada do resto da Terra (graças a uma dobra dimensional) e colonizada por negros fugitivos da na época da escravidão que faziam questão de perpetuar tal isolamento. Assim que chegaram lá os legionários encararam Tyroc (que significa "grito do demônio" na lingua local), um herói local dotado de poderes sônicos que logo de cara deixou bem claro que eles (e nenhum outro branco ou alienígena) não eram bem-vindos a Marzal. Mas aí, vocês sabem como são as coisas: depois do desentendimento inicial o protetor de Marzal uniu forças aos jovens heróis, a justiça prevaleceu, ficou provado que esse papo de preto com raiva de branco era bobagem e, por fim, Tyroc virou membro da Legião dos Super-Herois.


Talvez vocês achem que Grell ficou contente em participar da criação de um herói negro... Pois é, assim que recebeu o roteiro de Bates ele de cara detestou Tyroc! Segundo o desenhista, o conceito de uma ilha habitada somente por negros belicosos e segregada do resto do mundo era no mínimo cretino, para não falar racista... E, para piorar as coisas os poderes do personagem não ajudavam nem um pouco, já que retratar super-habilidades sônicas nos quadrinhos (que são uma mídia sem áudio, lembram?) nunca foi fácil. Diante disso Grell chutou o pau da barraca, e criou para o personagem um visual propositadamente idiota, que misturava as feições do ator Fred Williamson com os trajes de Elvis Presley em sua fase Las Vegas.


Após sua estréia Troy Stewart (o verdadeiro nome de Tyroc) apareceu em algumas aventuras da Legião na condição de membro regular da equipe, demonstrando ser um ótimo legionário apesar de sua mal-disfarçada arrogância. Só que o visual idiota e o viés segregacionista do personagem logo fizeram com que ele fosse chutado para escanteio assim que Paul Levitz assumiu os roteiros das Legião. Assim como Grell o novo roteirista detestava Tyroc e o despachou de mala e cuia para Marzal, e para não deixar a Legião sem um membro negro ele criou o Rapaz Invisível II (Invisible Kid II), um jovem oriundo da Costa do Marfim que herdou os poderes do primeiro e falecido Rapaz Invisível. Mas, e o Tyroc? Nunca mais apareceu?


Durante a sua longa passagem de quinze anos a frente da Legião Levitz fez referência a todos os personagens que passaram pela equipe, fossem eles ex-membros ou falecidos. Apenas Tyroc não foi lembrado pelo escritor, o que é uma prova mais do que cabal do quanto Levitz não gostava dele. O roteirista/desenhista Keith Giffen trouxe Tyroc de volta no ínicio dos anos noventa como uma das principais lideranças de um planeta Terra arrasado por guerras interplanetárias, só que as constantes reformulações/revisões cronológicas da Legião fizeram com que essas histórias perdessem a sua validade. De lá para cá o herói sumiu de novo, e suas últimas aparições foram com personagem de fundo no desenho animado da Legião que passa no Cartoon Network. Recentemente o escritor Geoff Johns iniciou uma nova reformulação da super-equipe futurista na minissérie Legion of Three Worlds, e nessa circunstância fica no ar a pergunta: o "grito do demônio" voltará? Ou continuará no limbo? Vamos aguardar...


Fontes:
Fanzing
Comic Book Resources - Comic Book Legends Revealed
Wikipedia - Tyroc
Legion of Super-Heroes Online Companion

3 comentários:

Flávio Gomes da Silva Lisboa disse...

Sugestão de pauta polêmica, caro Brodie Bruce: que tal um artigo sobre caracterizações raciais equivocadas? Lembra do Tigre Branco, Hector Ayala, o herói latino que surgiu na revista do Homem-Aranha? Pois, é, saberia explicar por que ele foi caracterizado como um negro, em um arco em que Gideon Mace quase mandou ele desta pra melhor?

Flávio Gomes da Silva Lisboa disse...

Opa, só corrigindo, o Tigre apareceu nas histórias do Aranha, mas como o próprio Brodie Bruce já publicou, ele estreou em Deadly Hands of Kung Fu.

Claudio Basilio disse...

Apenas uma ligeira e rápida respostaao seu questionamente levantado no meu blog: o nosso querido Tigre Branco é um tipico negro/mulato porto-riquenho, e ele é um dos poucos personagens latinos caracterizados de forma não-esterotipada, já que afinal de contas George Perez (um dos seus criadores) é filho de porto-riquenhos e se criou no bairro (South Bronx) onde as aventuras do personagem eram ambientadas.