quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Review 004 - O primeiro mega-crossover que eu li na minha vida!


Ah, o que é essa tal de nostalgia, sentimento que eventualmente arrebata o nosso pobre coração? Acabei de falar essa frase cretina porque de tempos em tempos eu me relembro de HQ's que li a vinte ou trinta anos atrás, quando eu era apenas uma criança pequena morando lá em Santos (cidade do litoral paulista). Bem, um dia desse adentrei os subterrâneos das minhas memórias nérdicas e eis que me lembrei do gibi Edição Extra de Invictus, publicado em 1979 pela saudosa editora Ebal. Esse gibizinho das antigas será o alvo de mais um sensacional review desse blog, e razão que me motivou a falar dele é simples: essa revista trouxe o primeiro mega-crossover que eu li na minha vida! Só que, antes de falar do gibi em si e da aventura trazida dentro dele vamos tentar discutir o que é um "crossover" e relatar como essa revista veio parar nas minhas mãos...


Vamos lá... O que é um crossover? Conceitualmente falando é a união de dois ou mais personagens de quadrinhos da mesma editora ou de editoras diferentes que repentinamente compartilham uma aventura. Resumindo: uma história onde dois super-heróis que usualmente não se encontram e que repentinamente aparecem em um bar tomando uma caninha pode ser definido como um crossover. Dito isso, é mais do que óbvio afirmar que crossover nos quadrinhos é uma coisa mais velha que andar para frente, só que sabemos muito bem que por mais divertido que seja dois mascarados bebendo juntos uma pinga ou trocando catiripapos o tipo de crossover que realmente atiça os fãs é aquele que reúne a maior quantidade possível de heróis... O que realmente dá tesão para os gibizeiros são os mega-crossovers!


Pois é... a primeira vez que eu me deparei com esse tipo de aventura foi em meados de 1983, ano em que eu dava início a minha "carreira nérdica", colecionando gibis da Marvel lançados pela Editora Abril. Nessa época eu d-e-t-e-s-t-a-v-a qualquer coisa da DC Comics (eu a achava absurdamente infantilóide em comparação com a Marvel), porém não me fazia de rogado quando algum gibi dessa simpática editora parava na minha mão, e o lia com um certo prazer envergonhado. E foi o que aconteceu quando um colega de escola me emprestou Edição Extra de Invictus, lançada pela Ebal em setembro de 1979 e que trazia a aventura A Terra na Rota Fatal, publicada originalmente em 1978 na revista comemorativa Showcase #100 com o título There Shall Come a Gathering (Uma Reunião ocorrerá !?). E já que falamos a pouco em "prazer envergonhado", antes de descrever A Terra na Rota Fatal podemos falar o seguinte dessa aventura: ela é completamente sem-pé-nem-cabeça e absolutamente divertidissima!


Tudo começou quando misteriosamente o planeta Terra começou a ser deslocado de sua órbita... As consequencias desse estranho fenômeno não tardaram a surgir: o tecido do Tempo e Espaço esgarçou-se, e repentinamente surgiram no século XX animais pré-históricos e pessoas das mais diversas épocas. Diante dessa crise, a maioria dos super-heróis rumou para o satélite da Liga da Justiça, com o propósito de traçar um plano para deter a catástrofe que ocorria.


Após essa reunião a história se divide em quatro linhas narrativas: na primeira uma equipe composta pelo Lanterna Verde, Flash, Elektron e Adam Strange vai para o espaço, com o propósito de deter o deslocamento orbital da Terra; enquanto isso em "terra firme" os Desafiadores do Desconhecido aliados ao Rastejante e a enxerida jornalista Lois Lane decidem investigar uma misteriosa estrutura alienigena que do nada apareceu. Coincidentemente o cauboi Bat Lash, a investigadora particular Angel O'Day (parceira do simiesco Sam Simeon) e o herói futurista Léo Futuro (Tommy Tomorrow) também se deparam com essa estranha estrutura e resolvem confirmar as suas origens. Quanto aos demais heróis, eles se espalharam pelo globo terrestre, lidando com todo tipo de problema temporal que aparecesse na frente deles.


No espaço o grupo liderado pelo Lanterna Verde se depara com uma nave espacial, e no confronto que se seguiu os heróis contaram com a providencial ajuda do herói espacial do século XXII conhecido como Space Ranger (me esqueci o nome nacional dele, se alguém souber me avise!) e do seu parceiro Cryl. Derrotar a nave não foi suficiente para restabelecer a órbita natural da Terra, e para dar uma "mãozinha" aos heróis dá as caras o Vingador Fantasma, que valendo-se dos seus dons místicos invoca a mais poderosa de todas as criaturas sobrenaturais... O Espectro! E aí, não demorou muito para a Manifestação da Ira Divina usar seus vastos poderes para literalmente "empurrar" nosso planeta de volta para a sua posição real. Só que nem mesmo o Espectro estava conseguindo realizar tal feito.


Enquanto isso, a misteriosa estrutura alienígena na Terra foi invadida por Lois Lane e Angel O'Day. Não demorou muito para os sistemas de defesa da estrutura partirem com tudo para cima das heroínas, só que destemidamente as duas conseguem chegar ao centro da estrutura, e após destruir os controles localizados por lá as entidades extraterrestres que habitavam a estrutura são expulsas da Terra. No espaço, todos os heróis presentes unem suas forças de vontade ao poder do Espectro, e finalmente a mais poderosa entidade sobrenatural da DC consegue botar nosso planetinha em sua órbita correta. Assim que eles conseguem realizar esse feito todos os heróis deslocados no tempo como Bat Lash, Space Ranger e Léo Futuro voltam para as suas respectivas eras, a paz se reestabelece na Terra e tudo termina bem, como quase sempre acontece no Mundo Encantado dos Quadrinhos.


Como falamos lá em cima essa aventura que reuniu boa parte do panteão heroístico da DC Comics é divertidissima, apesar de alguns absurdos, como por exemplo não ficar claro quem é o vilão (ou vilões) e quais são as motivações por trás dos atos deles. Mas tudo bem, vamos deixar isso de lado e botar o foco em algumas curiosidades por trás dessa história. Vocês perceberam que em nenhum momento citamos o Superman, o Batman e a Mulher-Maravilha? Pois é, deliberadamente os escritores Paul Kupperberg e Paul Levitz (os responsáveis pela concepção dessa aventura) deixaram a "Santissima Trindade" da DC Comics de fora desse mega-crossover porque intenção deles ao bolar esse crossover era reunir apenas personagens que passaram pela revista Showcase. Ora, para quem não sabe durante toda a sua carreira editorial a Showcase adquiriu uma enorme importância histórica nos EUA, já que diversos personagens fundamentais da DC Comics estrearam em suas páginas nos anos cinquenta e sessenta, fazendo com que ela se transformasse no berço da Era de Prata dos quadrinhos americanos.

Além disso, prestem atenção em algumas coisas que descrevemos por aqui: a Terra diante de uma catástrofe nunca antes vista... Heróis e ameaças de diferentes épocas repentinamente surgindo e participando da ação... A participação decisiva do Espectro... Pô, isso não está parecendo Crise nas Infinitas Terras? Pois é, essa simpáticissima aventura trouxe com sete anos de antecedência uma série de elementos que posteriormente fizeram parte da maior saga da história da DC Comics! E sabem o que é mais interessante em tudo isso? Toda a ação dessa aventura transcorre em apenas trinta e quatro páginas, razoavelmente bem desenhadas por Joe Staton! E pensar que nos dias de hojes roteiristas carecas e consagrados não conseguem desenvolver uma história decente em sete edições...

Bem... Em 1983 eu li essa aventura, e como já disse eu senti um certo "prazer envergonhado" ao lê-la... Infelizmente fui obrigado a devolver o gibi para o meu colega de escola. Para finalizar de vez esse review, eu peço para minha audiência: se alguém tiver a Edição Extra de Invictus perdida em algum lugar da coleção de gibis ou então encontrá-la em algum sebo... Por favor, esse blog aceita doações!



Fontes:
Gibihouse - A Memória Virtual dos Quadrinhos
Guia dos Quadrinhos
Grand Comic Book Database

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