Pois é, meus caros... Nos últimos tempos Papai do Céu resolveu armar uma tremenda festança lá em Cima, e para tanto chamou convidados brasileiros de alto quilate, entre eles o bibliófilo
José Midlin, o sambista
Walter Alfaiate e o mestre-jazz-bossa-novista
Johnny Alf. Só estava faltando um cartunista, e infelizmente para nós ele foi chamado na madrugada do dia 11/03/2010... Nessa altura do campeonato a nossa audiência já deve saber que estou falando do
passamento de
Glauco Villas-Boas, ou simplesmente
Glauco, como ele ficou conhecido por seus milhares de fãs.
Quando eu penso ou falo do Glauco sou obrigado a fazer uma "jornada sentimental" (noussa, que meigo!) para meados dos anos oitenta, quando eu era um pré-adolescente pequeno morando lá em Santos (cidade do litoral paulista). Nessa época, repentinamente (não mais que repentinamente) graças a um amigo caiu nas mãos desse simpático blogueiro que vos fala um exemplar da saudosissima
Chiclete com Banana, um magazine humoristico em preto e branco cuja maior parte do material era produzido pelo sensacional
Angeli, cartunista que se destacava naquele período produzindo tiras memoráveis para o jornal
Folha de São Paulo.
Vejam bem, eu falei que a maior parte do conteúdo editorial da Chiclete com Banana era produzido pelo Angeli...Outra parte da revista ficava a cargo de "brothers" do Angeli advindos da
Folha de São Paulo, entre eles o Glauco... E ai, meus caros, aí eu tomei conhecimento do
Geraldão,
Casal Neuras,
Doy Jorge, Dona Marta e a tantos outros personagens criados pelo moço de Jandaia do Sul, e rapidamente ao lado da
Chiclelete o magazine Geraldão virou uma das minhas revistas de humor favoritas de todos os tempos.
Falar de (ou fazer) humor desbocado nos dias de hoje é relativamente fácil... Não faltam candidatos ao titulo de
humorista-mais-zé-graça-e-mais-politicamente-incorreto-do-mês, mas nos meados dos anos oitenta nos tinhamos apenas a
MAD e um ou outro quadro mais picante dos programas televisivos do
Chico Anysio ou dos
Trapalhões... Dentro desse contexto tanto a
Chiclete quanto a
Geraldão foram verdadeiros bálsamos, já que elas traziam tudo aquilo que qualquer moleque gostava, que era sacanagem e putaria em estado bruto! E ainda por cima por inteligência! Ora, era impossível não rir da relação edipiana do Geraldão com a sua mamãe, da insana-vontade-de-dar da Dona Marta e da disputa para ver quem vestia mais rápido o chapéu de touro que rolava nas tiras do Casal Neuras. Isso sem falar na sensacional Los Três Amigos, série em quadrinhos que reunia Angeli, Glauco e Laerte (outro cartunista da
Folha) em histórias ambientadas no Velho Oeste onde ambos combinavam seus estilos artísticos! Que trabalhos brilhantes, meu Deus!
Infelizmente, o tempo foi passando, deixei de ser um adolescente ávido por gibis putanheiros para ser um adulto chato-pra-caramba, a
Chiclete e a
Geraldão cumpriram seus ciclos editoriais e os anos noventa bateram na nossa porta. O trabalho do Glauco ficou restrito apenas as páginas da
Folha, a uma ou outra edição especial ou republicação lançada para as bancas de jornais e a albúns publicados por editoras como a LP&M. Todavia, durante todo esse tempo nunca deixei de pelo menos dar uma olhada no material produzido ou republicado pelo "pai" do Geraldão, e justamente hoje fui pego de surpresa quando soube que ele tinha abandonado para sempre o nosso convívio.
Poderíamos fazer aqui uma baita digressão sobre o absurdo que é morar em uma cidade como São Paulo e não ter segurança nem na própria casa; poderíamos chamar na "chinca" aqueles que são responsáveis pela Segurança Pública; poderíamos fazer um montão de coisas, porém na modesta opinião desse modesto blogueiro que vos fala a melhor coisa a fazer é guardar no coração, na palavra e na mente o bom-humor que o Glauco trouxe para as nossas vidas. Dito isso, leiam algumas tiras feitas por ele (cliquem nelas para ampliá-las) e saibam que, pelo menos, o Papai do Céu agora tem um cara bom de piada do lado dele...
Artigos:
Cartunista da Folha, Glauco morre em tentativa de assaltoGlauco - Site Oficial